terça-feira, 3 de setembro de 2013

MAIS MEDICOS: UMA FARSA?

Mais Médicos: em apresentação, cinco profissionais desistem e os que ficam evitam exposição

Dos 32 que se inscreveram em vagas da capital baiana, ontem só 18 compareceram à Secretaria Municipal da Saúde para assumir seus postos

 
A previsão inicial era de que Salvador receberia 47 profissionais, entre brasileiros e estrangeiros, pelo programa Mais Médicos. Dos 32 que se inscreveram em vagas da capital baiana, ontem só 18, todos baianos, compareceram à Secretaria Municipal da Saúde (SMS) para assumir seus postos. Dos que foram, cinco desistiram da vaga ainda ontem, depois de assistirem à palestra sobre a situação da saúde pública em Salvador.
“É uma medida eleitoreira para trazer médico de fora sem fazer a revalidação do diploma. Se eu topar, não vou me sentir como um agente transformador da realidade da saúde pública do Brasil, ao contrário, estou legitimando este absurdo”, disse uma das desistentes, Clarissa Oliveira, 27 anos. Ela foi a única do grupo, todo de jovens, que topou se identificar. Negou, assim como os demais desistentes, participar de um boicote ao programa.
“Vi fotos do posto de Castelo Branco, que seria o meu, e quero visitar só para ficar com a consciência limpa de que não fiz pré-julgamento, mas ao que parece lá não tem estrutura nenhuma”, disse.
Ela afirmou que irá hoje ao posto para bater o martelo quanto à desistência. Confrontada com a garantia dada pela SMS de que todas as unidades que receberão profissionais passam ou passarão por reformas até o fim do ano, e possuem equipes completas, com enfermeiros, técnicos e agentes de saúde, ela disparou: “E você acredita nisso?”
Para a SMS, a desistência desses cinco médicos, bem como dos outros 14 que não apareceram, somente será oficializada quando não concluírem o processo de contratação – cujo prazo final é sexta-feira. Três médicos de outros estados, segundo a SMS, entraram em contato para informar que tiveram problemas com o voo.
Os brasileiros devem começar a trabalhar amanhã, depois de resolver os últimos trâmites burocráticos. A previsão é que 144 médicos assumam postos em toda a Bahia e 1.096 no país.
Estrangeiros
Dos 15 médicos de fora do país que, segundo o Ministério da Saúde, optaram para trabalhar em Salvador, apenas nove homologaram a inscrição. Desses, só cinco se apresentaram ontem.
“Alguns tiveram que ficar mais tempo em seus países para rescindir os vínculos que possuem lá, outros tiveram de resolver como ficaria a locação da família. Então eles virão na segunda etapa do Mais Médicos”, disse o secretário José Antônio Rodrigues. Os estrangeiros ainda estão fazendo o curso de capacitação e devem assumir seus postos somente no dia 16.
Dos 13 brasileiros que se apresentaram ontem e manifestaram interesse em seguir no programa, quatro já trabalhavam para a prefeitura, em contratos sem vínculo formal – e pagos diretamente através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público.
Acuados
A presença da imprensa no auditório da SMS, ontem, incomodou os 18 médicos presentes. Cinco profissionais foram consultados pelo CORREIO para conceder entrevistas, mas  negaram.
“Esse assunto já gerou muita polêmica, tem muitos colegas que vão encher o saco, melhor não, né?”, disse um deles. Quando um fotógrafo começou a registrar a reunião, alguns taparam o rosto com as mãos. Um reagiu: “Dá para parar de tirar fotos? Vão pôr onde, no jornal é?”, indagou.
Apenas uma das participantes do programa se dispôs a conversar. Maria da Conceição Souza de Abreu, 47 anos, passou 20 minutos criticando o Mais Médicos. “Quem está indo é por ideal. O Brasil está realmente precisando de médicos nas áreas  carentes e vou dar minha contribuição”, disse.
Ela reclamou da importação de médicos sem a submissão ao Revalida, do pagamento através de bolsa e da condição de trabalho nos postos de saúde. “Vou ficar seis meses e avalio se continuo. Não depende só de mim, mas de toda a infraestrutura que vou ter ao redor de mim. Se puder fazer trabalho de boa qualidade, continuo, senão saio”, disse.
Moradora de Salvador, ela pondera que a violência é um fator que pode fazê-la desistir do programa, e minimizou o valor da bolsa, de R$ 10 mil. “Dez mil é razoável? Divide para 20 horas semanais, que é a carga de um médico, dá R$ 5 mil. Agora tire 13º, plano de saúde, gratificações, férias, que eles não pagam, vai ficar quase nada. E pagar um táxi de ida e volta para a periferia? Se botar na ponta do lápis, vai ver que um técnico ganharia isso”.
O secretário comentou o clima de constrangimento entre os brasileiros que aderiram ao Mais Médicos.  “As vagas que eles estão ocupando não estão tirando de nenhum médico daqui. Vamos tentar tratar isso como uma continuidade de Provab”, disse.
O Provab (Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica) foi lançado no início do ano como forma de estimular recém-formados a trabalhar no SUS, com a compensação de dar pontos nas provas de residência, e não gerou grande polêmica. “A diferença do Mais Médicos é que permitiu a chegada de estrangeiros”, pontuou.
Reforma
Na palestra, a coordenadora de Assistência à Atenção Básica, Luciana Peixoto, assegurou aos participantes que todas as unidades que eles irão trabalhar estão com equipe completa, faltando apenas médicos.
“Alguns de vocês vão chegar em unidades já reformadas, outras em reformas, e vocês podem atender até em locais improvisados, e alguns podem chegar em unidades feinhas, acabadinhas, mais vão receber o cronograma das reformas. Até dezembro, todas estarão em reforma ou reformadas”, alertou.
Luciana falou ainda da dificuldade de conseguir atendimentos em especialidades como neurologia e angiologia. “Tem pessoa com requisição há mais de um ano, mas não consegue atendimento”, disse. Segundo ela, faltam médicos que trabalhem nessas especialidades que aceitem receber pela tabela do SUS. A solução encontrada pela prefeitura foi realizar mutirões anuais.
Prefeitura convoca mais 106 médicos de concursoA prefeitura convocou ontem  mais 106 médicos que fizeram o concurso de 2011, de diferentes especialidades. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) convocou ainda 309 outros profissionais como enfermeiros, terapeutas ocupacionais, dentistas e técnicos de enfermagem.
“Haverá outra convocação ainda de mais 31 profissionais na lista reserva do Programa Saúde da Família (PSF), e vamos abrir outro processo seletivo para contratar médicos ano que vem. Só no primeiro semestre serão 18 vagas em postos de PSF que estão sendo construídos, e mais 45 para atenção básica. No total, precisaremos de mais 100 médicos ano que vem”, disse o secretário José Antônio Rodrigues.
Na semana passada, a prefeitura já havia convocado 235 profissionais. Para mais informações, o candidato pode procurar a Subcoordenadoria de Provisão, Carreira e Remuneração no e-mail: pcre@salvador.ba.gov.br.

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